ARTIGO: A caravana passa

A presença de Dilma Rousseff às obras do rio São Francisco denunciam os numerosos comícios e sua motivação

Por JANIO DE FREITAS

Farto pedaço do governo prevê sair em caravana hoje cedo, Lula à frente, para percorrer trechos do rio São Francisco nos estados de Minas, Bahia e Pernambuco. A previsão original é de pelo menos sete ministros presentes, mais assessores diversos, deputados, senadores e aderentes incontáveis pelo caminho afora, encabeçados pelos governadores e prefeitos da extensa região.

No roteiro, palanques vários. Cada um deles é uma denúncia.

Serão três dias de viagem e duas finalidades. Para efeito oficial, o objetivo é inspecionar as obras da mal denominada transposição do rio. Para defeito público, os palanques e a presença de Dilma Rousseff denunciam os numerosos comícios e sua motivação. Com interesse especial na baiana Barra, do bispo Luiz Flávio Cappio, objeto da precaução de retirá-lo da diocese por uns dias para não criar constrangimento, com sua extremada oposição à obra, ao chefe da caravana.

Entre um ponto de comício e outro, reuniões já programadas com os governadores e outros políticos para buscar conciliá-los, em suas disputas locais e nas divergências partidárias, de modo a se eliminarem arestas prejudiciais à ação eleitoral por Dilma Rousseff.

É o governo em ação. Muito mais ação que a do Tribunal Superior Eleitoral e do Ministério Público idem.

Em nome da paz
A concessão do Nobel da Paz a Barack Obama produziu um debate público que, se tem precedente, está perdido no tempo. É possível que todas as explicações para a concessão, das mais simplórias às mais sofisticadas, estejam todas presentes e certas nas razões suscitadas em favor de Obama. A crítica à falta de resultados justificadores, porém, atende a outra ordem de considerações.

Pode ser proveitoso lembrar que Itzak Rabin e Iasser Arafat também foram premiados por uma paz que jamais fizeram, e mal prometiam procurá-la de fato. Enquanto considerava, com Nixon, crimes de guerra cada vez maiores contra civis do Vietnã do Norte, do Laos e do Camboja, Henry Kissinger recebeu o prêmio pelas "conversações de paz", em Paris, com o representante norte-vietnamita Le Duc Tôt, com quem dividiu o Nobel. Mas não pôde dividir o resultado da guerra com os vitoriosos vietnamitas.

Agromorte
A entrevista de João Pedro Stedile a Eduardo Scolese (Folha, 12.out) chamou atenção por tratar do acusado "vandalismo" do MST. A meu ver, este outro trecho, muito ligeiro dadas as circunstâncias, é um dos retratos perfeitos do caráter de incúria gananciosa predominante no Brasil: "Usar 713 milhões de litros de venenos agrícolas por ano, que degradam o meio ambiente, também é vandalismo". E nos envenenam a todos, não só ao meio ambiente, em um genocídio lento e doentio, que nos é servido em nossa própria mesa. Sem reação de ninguém.

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