16 de fevereiro: notícias da agricultura irrigada e muito mais


O início de 2014 está sendo marcado pela falta de chuva generalizada em todo o Estado de São Paulo e em outras regiões brasileiras, com temperaturas máximas recordes, baixo nível dos reservatórios de água, seca, queda de produtividade das culturas, aumento de preço de produtos agrícolas, falta de água nas cidades para abastecimento humano, industrial e dos sistemas de irrigação, consumo recorde de energia e recorde de "apagões" e "apaguinhos", ou simplesmente, falta temporária de energia. O problema vem desde  o final do ano passado, com as chuvas chegando tardiamente e ainda em dezembro e janeiro, o total de chuvas não chegaram ao total histórico esperado. Abaixo, o mapa da distribuição de chuva acumulada no noroeste paulista em dezembro de 2013 e janeiro de 2014, mostrando que algumas regiões foram mais afetadas, com por exemplo o entorno do município de Santa Fé do Sul. Ilha Solteira ainda lidera o ranking de incidência do número de raios na região.




É fator que estamos em uma situação de crise de oferta de água superficial, em grande parte pela diminuição de chuvas nos últimos meses. Mas também é fato que falta muito planejamento em todos os setores que dependem da água para atuar. Desde os que deveriam cuidar para que a abençoada chuva chegasse ao solo e aos mananciais com o menor impacto possível, até o uso racional, sem desperdício dela, seja no campo, ou nas cidades. Falta planejamento no uso da água. E em situações de uso conflitivo então, temos muito a aprender e colocar em prática para que tenhamos uma confortável oferta de água em quantidade e qualidade.

Planejar a microbacia é fundamental para que tenhamos mais escoamento de base do que superficial. Ou seja, a água deve infiltrar no solo e sair aos poucos e não chegar imediatamente ao talvegue, ou ponto mais baixo do terreno.

Com um planejamento adequado, que inclui conservação do solo, manejo da irrigação, campanhas e uso consciente da água nas cidades, poderíamos ter mitigado os problemas atuais causados pela falta da chuva este ano. Diminuir a diferença entre a máxima e a mínima vazão dos mananciais é o grande desafios de administradores/gestores sejam públicos ou privados e que deve ser perseguido. "Gestão da água é uma prioridade na produção agrícola" é um artigo de Afonso Peche Filho que traz o alerta de que devemos cuidar da conservação do solo e da água nas áreas rurais e assim valorizar ainda mais a importância sócio-econômica dos agropecuaristas.

Chuva chegou
A chuva chegou no noroeste paulista de forma dispersa, mas suficiente apenas para garantir o armazenamento de água na profundidade do sistema radicular das plantas. Chegou tarde para muito agricultores da região, especialmente os que plantaram milho. A chuva que caiu sobre a região não é suficiente para garantir a regularização dos reservatórios, represas ou açudes. E várias cidades ainda terão que adotar mecanismos de garantir o suprimento de água à população. Mas de qualquer maneira, foi um alívio, especialmente tirando a população das temperaturas elevadas recordes.

Após um período de estiagem que já durava 18 dias sem chuva, voltou a chover em Ilha Solteira na noite da quarta-feira (dia 12) e em fevereiro já se tem 73,1 mm. Em janeiro foram 121,9 mm e assim, o acumulado no ano é de 195 mm. Historicamente (1967-2013) esperávamos 234 mm em janeiro e 173 mm em fevereiro. Recebemos apenas 48% do que seria esperado.

Hoje, Pereira Barreto, que chegou a ficar 28 dias sem chuvas em janeiro e fevereiro,  após as 15 horas teve chuva forte que totalizou 39 mm. Às 15:25 h, a intensidade da chuva chegou a 128 mm/hora e para suportar esta quantidade de chuva sem causar erosão, somente com ótimas práticas conservacionistas, principalmente terraços ou curvas de nível e plantio direto. Choveu forte também na região entre Andradina e Tupi Paulista. O total das chuvas na região em fevereiro, com dados da Rede Agrometeorológica do Noroeste Paulista são: ILHA SOLTEIRA = 73,2 mm, SANTA ADÉLIA - Pereira Barreto = 54,6 mm, MARINÓPOLIS = 62,2 mm, BONANÇA - Pereira Barreto = 93,0 mm, ITAPURA = 76,7 mm, SANTA ADÉLIA PIONEIROS - Sud Mennucci = 38,4 mm, POPULINA = 42,2 mm e PARANAPUÃ = 41,7 mm.


Estamos preparando uma compilação sobre os problemas resultantes da falta de chuva e temperaturas elevadas e em breve será publicada uma postagem especial com o que foi publicado na imprensa. O objetivo é preservar as notícias de modo a conscientizar gestores que os problemas poderão voltar se não houver uma planejamento e profissionalismos adequado. Afinal, todos os estudos científicos apontam para fenômenos extremos cada vez mais frequentes.

Pod Irrigar - Irrigando cana
E a crise que o setor de cana está passando e como melhorar as produtividades da cultura com o uso de sistemas de irrigação foi o tema em Araçatuba da 12ª. Reunião do Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-Açúcar (GIFC). O objetivo deste encontro que reuniu os principais técnicos do setor sucro-alcooleiro do Centro-Sul foi discutir de forma mais aprofundada temas importantes sobre solo, planta e água, como forma de garantir eficiência produtiva ao setor.


O pesquisador do IAC Dr. Hélio do Prado, especialista em pedologia, técnica de classificação dos solos, discutiu a importância do tema para a irrigação, fertirrigação e desenvolvimento das plantas. Como os diferentes tipos de solo influenciam o potencial de produção de uma região foi didaticamente discutido.
O professor doutor Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo, fisiologista e Diretor UNESP Dracena, discutiu a fisiologia da cana, as diferentes variedades, arquitetura de plantas e tratos culturais e a resposta às condições de clima, água e solo.
À mim coube abordar o clima da região noroeste paulista, que apresenta déficit hídrico de oito meses anuais e a importância da irrigação como sustentabilidade deste setor de importância estratégica para o país, com a produção de açúcar e etanol e que passa por dificuldades que se arrasta já há algum tempo. Acreditamos que parte da solução para o setor sair da crise é ter ganhos expressivos nas produtividades e sem irrigação, ao menos no noroeste paulista, isso não será possível. Abaixo a diferença no balanço hídrico esperado e o ocorrido em 2012. SILVA et al. (2012) mostra também que há uma grande variabilidade na distribuição de chuvas na região.

Balanço hídrico histórico para Ilha Solteira e região e o ocorrido em 2012.

Nesta região com predominância da pastagem, que foi a cultura que mais deu lugar a cana, Hernandez et al (1995), Damião et al (2010) e Santos et al (2010) mostram a extensão do déficit hídrico hídrico, que pode chegar a 8 meses no ano com grande frequência e ainda, Schutze et al (2012) avaliaram o efeito nas culturas de um veranico prolongado ocorrendo nos meses de fevereiro e março, época tradicionalmente chuvosa, expondo toda a fragilidade da produção agrícola quando dependente apenas das chuvas.
Apenas 2% da área de cana são irrigados com água, muito pouco e há uma forte resistência à adoção de sistemas de irrigação para garantir a produtividade dos canaviais, mesmo com a grande expansão do setor. Muitos que trabalham com cana ainda confundem aplicação de vinhaça com irrigação. Não é a mesma coisa, aplicar vinhaça é praticar a fertirrigação, que é a aplicação de nutrientes, com pouco pouco volume de água. A cana precisa de água para repor as perdas por evapotranspiração e assim garantir ciclos mais longos com maiores produtividades médias. É uma planta C4 e esta condição não deve ser desperdiçada, especialmente em uma região que tem à sua disposição uma radiação global de 83.621 MJ/m2.ano ou ainda um insolação histórica de 33.580 h/ano (ARRUDA et al., 2012).
A produção de cana na 2000/2001 foi de 246 milhões de toneladas e chegou à 624 milhões de toneladas em apenas 10 anos. Todavia, a falta de chuva contribuiu muito para que a safra 2012/13 fosse de apenas 532 milhões de toneladas e a última safra, a 2013/14 ficou em 596 milhões de toneladas. Este ano, começa com o janeiro mais seco e a maiores temperaturas da história e uma grande incerteza na produção final. Compatibilizar seca ou veranicos frequentes e chuvas intensas, concentradas, é um grande desafio de técnicos, gestores e investidores, pois não basta apenas adquirir equipamentos, deve-se manejá-los.
Assim, discutimos quais os melhores sistemas de irrigação, qual a quantidade de água aplicar, se de forma a repor a evapotranspiração ou apenas de salvação e como manejar a irrigação como forma de garantir produtividades elevadas e a viabilidade técnica do setor. Mas ampliamos a discussão além do setor de cana e passamos para a produção de alimentos e a importância dos sistemas de irrigação.


Apesar do cenário macroeconômico se deteriorando e problemas domésticos, que inclui a importação de etanol, a indústria da irrigação não viu crise em 2013 e não acredita que ela possa atingir 2014, pois as demandas por alimentos no mundo crescem, especialmente as ligadas à produção de proteínas, como carne, ovos ou derivados de leite e para fornecê-las, países produtores de soja e milho ficam em condições favoráveis. Somente a China, aumentou em quatro vezes nos último 20 anos o consumo de carne. Mas o que se constatou foi a expansão das áreas irrigadas em regiões onde a irrigação já é expressiva, ou seja, irrigantes se tornaram ainda mais irrigantes e municípios irrigados ampliaram suas áreas livres da vulnerabilidade das chuvas. 
Lamentavelmente, o noroeste paulista, região de maior aptidão climática, de bons solos e de infra estrutura de transporte e energética não tem colhido este ambiente favorável e os investimentos em sistemas de irrigação podem ser classificados como tímidos. Esse foi o tema que desenvolvemos esta semana no Pod Irrigar - o Pod Cast da Agricultura Irrigada. Ouça também as dicas anteriores.

Mais sobre cana
No momento em que Técnicos reunidos no Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-Açúcar (GIFC) buscam conhecimentos e argumentos para convencer os gestores e investidores da necessidade da irrigação como ferramenta para a sustentabilidade do setor, a seguir algumas das matérias publicadas na imprensa, que evidenciam que mudanças devem ser feitas para superar este momento crítico.
Safra de cana 2014/2015 caminha para “desastre”, diz Canaplan - Com desenvolvimento da planta atrasado, entidade estima dificuldade de usinas iniciarem colheita em abril
- Mercado ameaçado: gigantes do setor de açúcar e álcool admitem que podem fechar usinas. A dois meses do início da safra, usinas de açúcar e álcool estão endividadas e sem perspectivas de expansão; gigantes do setor admitem que podem fechar unidades
-  A grande dúvida não é quanto de cana tem, mas quanto será moído - Diretor da Unica faz previsões para safra 2014/15 e fala sobre os problemas que o setor produtivo deve continuar enfrentando
- Copersucar: safra deve ser adiada devido ao tempo seco - "Se as chuvas voltarem na próxima semana, apesar da perda do excesso de cana, ainda será possível moer o equivalente à capacidade total de processamento“
- Seca no centro-sul pode afetar produção de cana do 2º semestre, diz Somar - Somente chuvas isolas devem cair sobre o cinturão de cana brasileiro nas próximas três semanas
- Preços do etanol disparam com clima e demanda forte - O valor já está 13% acima do registrado em igual período da safra passada. É também o maior preço desde 20 de abril de 2011

Água: como usar bem?

Falta de chuva

Agricultura irrigada





Eventos importantes
XXIV Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem (CONIRD) será realizado em Brasília, no período de 7 a 12 setembro de 2014. Até 30/04/2014 - Inscrição de trabalhos conforme normas apresentadas. Todos os trabalhos científicos devem ser enviados através do trabalhos.conird2014@gmail.com

O II INOVAGRI International Meeting será realizado em Fortaleza.de 13 a 16 de abril de 2014, além da programação já fechada, trabalhos científicos recebidos e confirmados, terá também dois workshops que trarão o estado da arte atual em: (A) 13 de abril de 2014 - Técnicas Avançadas para Dimensionamento de Sistemas de Irrigação Pressurizada em Larga Escala, tendo como Instrutor Nicola Lamaddalena (Diretor do IAMB, Bari, Itália); (B) 15 de abril de 2014 - o Workshop sobre Lisimetria: Instalação, Manejo e Análise dos Dados, tendo como Instrutor Richard Allen (Universidade de Idaho, Estados Unidos).

O 9th International Symposium AgroEnviron - Impacts of Agrosystems on the Environment: challenges and opportunities acontecerá de 3 a 7 de agosto de 2014 em Goiânia - GO e teve a submissão de trabalhos estendida até 28 de fevereiro de 2014.

Emprego - Concursos - Oportunidades

Segurança na Internet

Negócios

Entretenimento
"Vino Divino Vino" é o blog de Elmano Marques com dicas de vinho fantásticas.

Comentários

  1. Professor e a educação neste país não são valorizados. O professor é considerado um mero serviçal do sistema capitalista de produção, e o que prevalece é a produtividade e não mais a educação, o objetivo principal do docente. No Brasil valorizam-se mais um político, um jogador de bola, o big brother, o mensalão e menos a educação.....

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