Aula QUATRO: sistemas de irrigação não apenas aplicam água. Saiba o que é fertirrigação

"Na definição clássica, irrigação é a técnica de aplicação artificial de água que se utiliza para repor a água consumida pelas plantas no processo de transpiração das folhas e evaporação do solo, a chamada evapotranspiração. Todavia, uma irrigação não pode e não deve ser entendida, única e exclusivamente, como um procedimento artificial para atender às condições de umidade de solo visando à melhoria da produção agrícola, tanto em quantidade como em qualidade ou oportunidade. Na realidade, ela constitui um conjunto de operações (compondo em si um sistema) necessário ao atendimento das necessidades de água das plantas, bem como eliminar seus excessos, que transcendem à relação solo-água-planta-atmosfera, pura e simplesmente. Agrega-se, aí, o clima, o homem, além de outros campos do conhecimento da humanidade com grande abrangência. A ciência e a arte da irrigação, são abrangentes e interdisciplinares, passando pelo campo das ciências agrárias, das exatas (engenharia hidráulica, civil, elétrica, etc.), sociais (economia, sociologia, política, etc), mas nenhuma delas é mais importante que a outra, pois quando da decisão final quanto ao uso da água, todos esses fatores conjuntamente têm que ser levados em conta. Assim, são tantas as possibilidades que se tem com o uso da irrigação que a definição clássica é simplista demais pelo que ela pode oferecer. Melhor seria definir irrigação como um conjunto de ações e conhecimento eclético que pode levar o produtor a concretizar maiores produtividades e auferir maiores lucros. Lembre-se então sempre: a irrigação na agricultura deve ser entendida não somente como um seguro contra secas ou veranicos, mas como uma técnica que dê condições para que o material genético expresse em campo todo o seu potencial produtivo." (HERNANDEZ, 2004 e 2013).


Pod Irrigar - XXV CONIRD - Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem
Aconteceu esta semana o XXV CONIRD - Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem, evento tradicional da área, que teve como tema a "Agricultura irrigada no semiárido brasileiro" e a ABID - Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem fez parceria é com o Estado de Sergipe e nesse trabalho em favor do desenvolvimento da agricultura irrigada, que tanto pode impulsionar diversas cadeias de negócios em Sergipe, no Semiárido e no Brasil, os congressistas foram recebidos na Universidade Federal de Sergipe (UFS), que coordenou também o Comitê Científico do XXV CONIRD. Mais uma vez, foi uma ótima oportunidade para reciclagem do conhecimento, estabelecimento de novos contatos e fortalecimento e estabelecimento de novas parceiras.
No XXV CONIRD forma abordados os mais diferentes temas em torno dos negócios da agricultura irrigada, como os da engenharia da irrigação, da drenagem, da gestão dos recursos hídricos, da logística para melhor impulsionar as cadeias produtivas e comerciais, com suas implicações socioeconômicas e ambientais, há muito a ser descortinado para que haja mais e mais prosperidade para todos. Nas tradicionais Conferências e Seminários, ficou evidente que temos um potencial para a agricultura irrigada da ordem de 60 milhões de hectares, mas, segundo o Engenheiro Agrônomo Devanir Garcia - Coordenador de Projetos Indutores da Agência Nacional de Águas (ANA) "o tamanho da irrigação no Brasil vai depender da qualidade da irrigação que fizermos. Se nós formos eficientes, nós vamos poder irrigar muito mais áreas, porque terra nunca foi problema, nosso problema é água!" Como nosso convidado desta semana do [Pod Irrigar] - o Pod Cast da Agricultura Irrigada - aponta os impactos da agricultura e drenagem na economia dos recursos hídricos. A situação atual de oscilação de oferta de água combinada com elevação dos custos de energia exige um outro olhar nos projetos e devemos pensar, ousar e estabelecer um como diferencial de projetos um olhar para a conservação do solo e  a reservação. Grandes reservatórios não conseguirão manter seus níveis. Com o padrão de chuva alterado para convectivas em frequência maior que frontais e um passivo grande de falta de conservação de solo, que se conservado garante o fluxo contínuo no escoamento de base, teremos sempre oscilação grande entre os níveis mínimos e máximos de água.  Como por exemplo aqui nos rios Grande, Tiete, Paraná e Paranaiba sem entrar no volume morto temos 5 metros de oscilação (328-323 metros). Se entrarmos no volume morte podemos chegar como agora em 10 metros de oscilação. Do ponto de vista das empresas de irrigação e do mercado, o cenário também não é animador para 2016, os recursos de financiamento já estão escasseando e alternativas de financiamento devem ser buscadas e redução de custos, com demissão inclusive, já é uma realidade.
Entre as Oficinas, Coordenamos a de "Pastagens e forrageiras irrigadas para corte, milho irrigado para a produção de grãos e silagem" junto com o Professor Dr. Raimundo Rodrigues Gomes Filho e o apoio na logística de Débora Thalita Brito de Oliveira.
Também no XXV CONIRD foram lançadas as edições 104 a 106 da revista ITEM - Irrigação e Tecnologia Moderna e que podem ser acessadas gratuitamente no sítio da ABID. Esse foi o tema que desenvolvemos esta semana no Pod Irrigar - o Pod Cast da Agricultura Irrigada desta semana. Ouça também os anteriores.

Aulas
Discutimos em sala de aula as diferença na avaliação em campo entre a irrigação por aspersão e a localizada e ainda sobre a maior dificuldade e custos de avaliação e readequação de um campo de golf, que exigiria investimentos altos. Após a avaliação e melhorando o desempenho dos sistemas de irrigação temos os seguintes benefícios tais como: Melhoria da eficiência da aplicação da água, Aumento da produtividade, Aumento do lucro, Melhoria da qualidade da água, Diminuição do total da água aplicada, Diminuição da energia utilizada, Diminuição dos nutrientes e defensivos lixiviados, Diminuição do escorrimento da água e da erosão e Redução das doenças nas plantas. O artigo "Caracterização hidráulica de gotejadores em condição superficial e subsuperficial" é um ótimo exemplo de avaliação de sistemas de irrigação, com uma metodologia bem descrita.


Vários órgãos e Instituições utilizam os Laboratórios Móveis para avaliação dos sistemas de irrigação na propriedade. Por exemplo, na Florida, Estados Unidos, o Laboratório Móvil de Irrigação (Mobile Irrigation Lab - MIL) foi implantado em janeiro de 1999 com o objetivo de promover a conservação da água e energia através da melhoria da eficiência dos sistemas de irrigação, para promover a melhoria da qualidade da água minimizando a lixiviação dos nutrientes além da zona radicular mantendo-os entre as raízes para a melhor absorção, para promover a sustentabilidade da agricultura através da redução dos custos de produção, através da redução dos gastos com energia e fertilizantes e o aumento da produtividade das culturas. Veja quantos são e onde estão baseados. Sugerimos a leitura dos artigos que avaliaram o desempenho dos sistemas de irrigação na MBH do Córrego do Coqueiro e do Três Barras e entendam a importância de se conhecer a capacidade e qualidade da aplicação de água dos sistemas de irrigação. Veja como é esse trabalho no DWR - California, o Mobile Irrigation Laboratory do USDA - NRCS - California, o Mobile Irrigation Lab do USDA - NRCS - Florida (veja depoimentos e explicações detalhadas), o Mobile Irrigation Labs do USDA - NRCS - Managing Irrigation Water and Salinity no Colorado (ver folder de divulgação e entrevista com Jason Peel, especialista em Manejo da Irrigação), o Mobile Irrigation Lab do Resource Conservation District de Monterey County, o programa Mobile Labs do Pajaro Valley e ainda Mobile Lab do Coachella Valley Resource Conservation District, que existe desde 1985 (veja também a publicação "A review of agricultural water use in the Coachella Valley") em uma das regiões mais secas e inóspitas da California, mas que os irrigantes souberam enfrentar as dificuldades impostas pela natureza. Veja os números!

Vista do veículo que representa o Mobile Irrigation Lab do USDA - NRCS - Colorado

O marcador "avaliação" neste Blog traz informações complementares aos livros-textos apresentados na Bibliografia, além de sugerir outros artigos técnicos. Nossos últimos artigos publicados sobre o tema foram "Caracterização dos sistemas de irrigação no córrego do Coqueiro no noroeste paulista", "DESEMPENHO DOS SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO NA MICROBACIA DO CÓRREGO DO COQUEIRO" e "DESEMPENHO DOS SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO NA MICROBACIA DO CÓRREGO TRÊS BARRAS EM MARINÓPOLIS - SP".

Todas estas informações podem ser aprofundadas através da centena de exercícios disponibilizados em nosso canal "Atividades Acadêmicas". No canal do Youtube, há ótimos videos produzidos pela nossa equipe de Extensão. Confira o "Cuidados para se ter projetos adequados de irrigação", "Escolha da tarifa de energia elétrica para irrigação: estudos de caso" e "Pivô central irrigando soja". Estamos convictos que com tanto material de referência, aulas bem ilustradas em sala e em campo, somente não aprende, quem não desejar, porque são inúmeras as oportunidades adicionais além das aulas semanais.

Também abordamos a quimigação, onde é preciso primeiro definir o alvo: planta ou o solo para definir a lâmina que acompanhará a injeção do produto desejado. Fertirrigação deveria ser uma prática obrigatória em sistemas de irrigação, especialmente as sistemas localizados e o pivô central, mas uniformidade de aplicação é um item obrigatório e depende de um bom projeto de irrigação. Sobre o tema fertirrigação, concedemos uma entrevista ao Portal Dia de Campo que está disponível integralmente na página do Portal, baseada no artigo de autoria de KANEKO, F.H.; HERNANDEZ, F.B.T.; SHIMADA, M.M.; FERREIRA, J.P. com o titulo de "Estudo de caso - Análise econômica da fertirrigação e adubação tratorizada em pivôs centrais considerando a cultura do milho". Agrarian, Dourados, v.5, n.161, p.161-165, 2012, disponível a partir de: http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/agrarian/article/view/1528/1034
Trata-se de trabalho simples, mas com ótimo poder de convencimento aos irrigantes que não desejam fazer investimentos no sistema de injeção de fertilizantes e químicos por acreditarem terem de fazer mais um "gasto" e não percebem que trata-se de um investimento com retorno assegurado.

A fertirrigação é a técnica em são aplicados fertilizantes junto com a água de irrigação e assim tem-se economia de mão-de-obra e energia, diminuição da compactação do solo, o aumento da eficiência do uso e economia de fertilizante com controle da profundidade e flexibilidade de aplicação, além de facilitar a aplicação de micronutrientes e a possibilitar uma melhor utilização dos equipamentos de irrigação, e naturalmente, com mais lucros ao irrigante. Em 2014 participamos do II Simpósio de Irrigação promovido pelo GPID - Grupo de Práticas em Irrigação e Drenagem - discutindo a viabilidade econômica da fertirrigação, onde são necessários investimentos no sistema de injeção para o uso da técnica. Comprovamos a viabilidade econômica do investimento utilizando resultados de um trabalho anterior nosso realizado em 1993 e outros atuais sobre em quanto tempo se paga o investimento feito. Nada mudou em 20 anos, a técnica é viável, pois substitui os gastos com a operação mecanizada de fazer a adubação de cobertura.



Mas então, porque a fertirrigação não é amplamente utilizada pelos irrigantes? Certamente porque não depende somente de investimentos, há as condições básicas para que ela seja efetiva, que vai da escolha do tipo de injetor de acordo com o sistema de irrigação existente, passa pela avaliação da uniformidade da aplicação, pela escolha do fertilizantes, pelos cálculos necessários e por fim pela operação de injeção em si. Acredito que para a expansão do uso pelos irrigantes falta informação técnica, e esta comunicação deve ser mais efetiva por parte dos vários segmentos que atuam no processo: desde fabricantes e revendas de sistemas de irrigação, à profissionais de extensão e assistência técnica rural.

Sugestão de leitura
Saiba mais sobre os sistemas de irrigação no canal (123) e no Blog (123) da Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira. Não deixe de fazer as listas de exercícios e conferir a Bibliografia sugerida para a Disciplina! Mas não deixe de consultar as bibliografias abaixo:
BERNARDO, S.; SOARES, A.A.; MANTOVANI, E.C. Manual de Irrigação. 7a. Edição, Viçosa, Editora UFV, 2005. 611p.
BISCARO, G.A. Sistemas de irrigação por aspersão. Dourados, MS: Editora da UFGD, 2009. 134p. ISBN 978-85-61228-35-4
BISCARO, G.A. Meteorologia Agrícola Básica. Cassilândia: UNIGRAF - Gráfica e Editora União Ltda. 2007. 87p.
BURT, C.; O'CONNOR, K; RUEHR, T. Fertigation. San Luis Obispo, 1995, 320p.
COSTA, E.F.; VIEIRA, R.F.; VIANA, P.A. (ed). Quimigação - Aplicação de produtos químicos e biológicos via irrigação. Sete Lagoas: EMBRAPA, 1994, 315p.
ELABORAÇÃO de Projetos de Irrigação. Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica. Programa Nacional de Irrigação. 1986.
HERNANDEZ, F.B.T. Curso de Capacitação em Agricultura Irrigada, 1, 1999, Ilha Solteira. Ilha Solteira: (1999) UNESP/FEIS - Área de Hidráulica e Irrigação, 1999, 55p.
HERNANDEZ, F.B.T. Anais do Simpósio Internacional de Fruticultura Irrigada, 1, 1998, Jales. Ilha Solteira: (1998) UNESP/FEIS - Área de Hidráulica e Irrigação, 1998, 49p.
LOPES, J.D.S.; LIMA, F.Z. de; OLIVEIRA, F.G. Irrigação por aspersão convencional. Viçosa: Aprenda Fácil, 2009. 333p.
MANTOVANI, E.C.; BERNARDO, S.; PALARETTI, L.F. Irrigação - Princípios e Métodos. Viçosa: Editora UFV, 2a. Edição, 2007, 358p.
MELBY, P. Simplified irrigation design. New York, Van Nostrand Reinhold, 1988, 190p.

Recursos Hídricos
Na aula de Recursos Hídricos abordamos a caracterização da bacia hidrográfica e o uso de ferramentas tecnológicas ligadas a geotecnologias, como por exemplo os softwares Ilwis, ArcGis e a base Topodata. Construíram a bacia hidrográfica a partir de curvas e do modelo numérico do terreno usando o Cinturão Verde como exemplo. 


Montagem com partes da edição especial da revista National Geographic Brasil "Água e Mudanças do Clima". Ótima oportunidade para compreender como as variações climáticas estão influenciando os ciclos hídricos no planeta. A edição viaja por vários cantos do planeta e o Jornalista Marcio Pimenta esteve em Ilha Solteira e região e questiona se seria "O fim da abundância?" Em sua matéria aborda a história da nossa Ilha Solteira, o lago, as oportunidades criadas no emprego, turismo e piscicultura em tanques-rede. Recebemos o Jornalista no Laboratório de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira onde conversamos sobre a instabilidade das chuvas, a crise hídrica e as consequências para a agropecuária no noroeste paulista, temas abordados em sua ótima reportagem.

Tragédia ambiental - Samarco
Matéria relata que o Rio Doce está completamente morto e que a análise laboratorial detectou até mercúrio nas águas do rio mais importante de Minas Gerais - danos ambientais são irreversíveis. A Fotógrafa Elvira Nascimento esteve no rio Doce, tendo como primeiro destino ponte Queimada, em seguida ponte Perdida e Ponte Metálica, e nas suas palavras: "o que vimos: o nosso Rio Doce desfalecendo, sua água contaminada por uma lama escura e fétida. Há cerca de 24 horas o rio está no mesmo estado de lama, significa que possivelmente, todo o seu percurso, até no Espírito Santo estará simultaneamente nesse estado, eliminando qualquer tipo de vida em seu leito, afetando também toda a fauna que dele precisa para sobreviver. Calcula-se que levará anos para ele voltar a ser o mesmo. Uma catástrofe que deixará sequelas ambientais ao longo de todas as cidades que utilizam de suas águas. Esse é o cenário do Rio Doce, vítima do desastre ocorrido na mina da Samarco em Mariana, onde milhões de metros cúbicos de rejeitos desceram soterrando tudo que encontrava pela frente." Veja em fotos o seu relato! Outra matéria diz que restaurar natureza tomada por lama é impossível e o rio Doce pode desaparecer e na mesma linha, especialistas dizem que "tragédia em Minas Gerais deve secar rios e criar deserto de lama" (com fotos chocantes), o que já pode ser conferido com o triste sobrevoo feito pela empresa AirPix mostra a lama avançando sobre o Rio Doce, entre as cidades de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, na Zona da Mata mineira (A). Rompimento da barragem em Mariana: DigitalGlobe divulga a PRIMEIRA imagem de satélite de altíssima resolução coletada na região do desastre. "Da lama ao caos" é um ótimo e didático infográfico sobre o desastre! E veja também "Alerta no Estado para enchente no Rio Doce". 

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